quarta-feira, 12 de junho de 2013

Susana Arrais: "A vida real inspira-me"

 
 
 
Trabalhar com jovens de bairros problemáticos, e fazer deles ídolos da sua própria comunidade, é para a atriz uma mais-valia enquanto pessoa e profissional. Conheça o outro lado da Patrícia, de "Mundo ao Contrário", da TVI.
 
"Não consigo estar parada, sem nada para fazer.” Quem o diz é Susana Arrais que, aos 37 anos, garante que se sente uma mulher realizada e que tem a vida que escolheu. “Tenho dois filhos lindos: a Maria, quase a completar dez anos, e o Tomé, com quase dois. Tenho o marido que escolhi e tenho a carreira que sempre quis ter. O que é que posso pedir mais?”
 
A par do papel em "Mundo ao Contrário", onde interpreta Patrícia, a atriz divide o seu tempo entre a família, os amigos e um projeto que lhe enche o coração. “O Teatro IBISCO (Inter Bairros para a Inclusão Social e Cultura do Otimismo) começou por ser um workshop promovido pelo programa Escolhas, que tinha como objetivo centrar-se em jovens que vivem em bairros problemáticos, como é o caso da Quinta da Fonte, em Loures”, começa por nos contar, acrescentando que esta iniciativa é da autoria do seu marido, o encenador Miguel Barros.
 
“Percebendo as necessidades que estes jovens têm e dos conflitos e das rixas entre os bairros, ele achou que seria interessante juntá-los. Ao início, a aproximação entre eles não foi fácil porque já vinham com algum preconceito. Afinal, estamos a falar de bairros que são rivais. Eles nem sequer se olhavam olhos nos olhos, muito menos se tocavam. Percebemos que havia muita tensão. O clima era duro e agressivo. Sabíamos que tínhamos muito trabalho.” Ao mesmo tempo, perceberam que havia ali muito potencial para trabalhar. “Nós queremos que eles percebam que aquilo que têm em comum é muito mais do que aquilo que os afasta”, avança Susana.
 
Foi com este propósito que, em 2009, tanto a atriz como o marido perceberam que este projeto tinha pernas para andar. “Passados estes anos, somos uma associação e o nosso objetivo agora é conseguirmos pensar já a longo prazo. Isto é, pretendemos deixar-lhes a associação nas mãos para serem eles a dar continuidade.” Tudo isto não faria sentido sem a ajuda da Câmara Municipal de Loures, que se tornou uma parceira e acabou por ceder o espaço onde é hoje a sede. “Ajudaram-nos também na criação do Festival O Bairro i o Mundo, que pretende abrir o bairro ao Mundo e trazer o Mundo ao bairro. O nosso intuito é requalificar o espaço urbano, pintando murais, reabilitar os espaços verdes e criar jardins e parques infantis.”
 
Vontade de ir mais longe 

Se, para já, a Quinta da Fonte, em Loures, foi o primeiro bairro a ser posto à prova, para Susana Arrais este projeto é muito mais ambicioso. O objetivo é levar o Teatro IBISCO a muitos outros bairros problemáticos. “Já fizemos um workshop na Bela Vista, em Setúbal, e neste momento estamos à espera de financiamento para podermos criar lá um polo IBISCO, mas também queremos fazer isto noutros bairros do concelho de Loures”, afirma, acrescentando: “Acredito que vai crescer. Quanto ao Festival O Bairro i o Mundo, este ano é só a primeira edição, que vai decorrer na Quinta da Fonte, mas para o ano estamos a querer fazer na Quinta do Mocho”, diz, convicta.
Quando questionada sobre se seria capaz de deixar a sua carreira de atriz para se dedicar de corpo e alma a este projeto, Susana não esconde que lhe dá muito prazer ajudar os outros, mas confessa: “Sou atriz e não me consigo descolar da minha profissão. Não consigo dissociar uma coisa da outra. Sinto que preciso de continuar a trabalhar na representação, mas por outro lado preciso de conhecer a vida real porque é esta vida que me inspira.”
 
A vida real transposta para a ficção 

Apesar da sua personagem, em "Mundo ao Contrário", não ter uma grande incidência no tráfico de droga e nos problemas do Bairro da Pedra, este papel não poderia ter vindo em melhor altura. “Tenho a sorte da vida me ir empurrando para as coisas certas, nas alturas certas. Aqui, houve um encontro muito feliz e a vários níveis. Mal comecei a ler os textos da novela pus logo na minha cabeça a Quinta da Fonte como cenário e ajudou-me imenso”, conta, entusiasmada.
“É altamente inspirador o que vou conhecendo neste tipo de locais para depois transpor para a ficção. Em relação à Patrícia, ela é feita de todas as minhas experiências de bairro, até do meu, mas comecei a estar mais atenta às mulheres que andam por lá, o que foi muito bom para a personagem, mas principalmente para mim”, garante-nos Susana Arrais.
 
 
Fonte: Impala
 
 
 

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